segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O Caso da Feiticeira En-dor - 1 Sm 28.7-20


1 Sm 28.7-20 (leia o texto) é utilizado por grupos de pessoas e grupos religiosos que desejam encontrar alguma colaboração que fundamente a comunicação com os mortos, tornando possível “demonstrar”, segundo eles, que as suas crenças encontram respaldo bíblico. Entretanto, veremos que esse texto é mal entendido por tais pessoas.

Primeiro, precisamos entender que Deus condenava tal tipo de prática, como lemos em Êx 22.18: “A feiticeira não deixarás viver”, e em Dt 18.9-12 “quando entrares na terra que o Senhor teu Deus, te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor, teu Deus, os lança de diante de ti”. Assim sendo, é de se esperar que se Deus condenasse tal prática Ele mesmo não iria agir através de tal forma.


Segundo, sabemos que Deus não se comunicava com Saul de nenhuma forma mais. Como o próprio Saul diz de acordo com texto bíblico de 1 Sm 28.15: "Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Mui angustiado estou, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e não me responde mais, nem pelo ministério dos profetas, nem por sonhos; por isso te chamei a ti, para que me faças saber o que hei de fazer."


Terceiro, o texto bíblico nos diz que a feiticeira viu um deus subindo, e que Saul não viu a Samuel com seus próprios olhos, mas que ele achou que aquele “ser” (o deus visto pela feiticeira) era Samuel: “Entendendo Saul que era Samuel” [1Sm 28.13, 14]


Quarto, foram feitas algumas profecias para Saul. Aqui precisamos observar com um pouco mais de atenção, porque essas “profecias” foram trazidas por aquele “ser” que Saul pensou ser Samuel e que a feiticeira chamou de “deus”.


Ora, a própria Escritura nos diz que Samuel era um profeta de Deus e que o Senhor não deixou nenhuma de suas palavras cair por terra: “ Crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. Todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor” [1 Sm 3. 19-20]. Isto quer dizer que tudo que Samuel profetizava acontecia exatamente como era falado (ou então a Bíblia estaria mentindo), entretanto, essas profecias trazidas nessa situação em particular não ocorreram exatamente como foram feitas.


Com todas essas informações precisamos atentar para o fato de que se esse “ser” fosse realmente Samuel as suas profecias teriam sido cumpridas exatamente como foram feitas, porém esse não foi o caso. Vamos considerá-las.


Vejamos a profecia feita no verso 19 do texto base: “E o Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo; e o arraial de Israel o Senhor entregará na mão dos filisteus.”


1. Saul seria entregue aos filisteus e morto por eles;

2. Todos os filhos de Saul seriam mortos.


É importante observar que Saul não foi morto pelos filisteus, mas cometeu suicídio:“Então, disse Saul ao seu escudeiro: Arranca a tua espada e atravessa-me com ela, para que porventura, não venham estes incircuncisos, e me traspassem, e escarneçam de mim. Porém o seu escudeiro não o quis, porque temia muito; então, Saul tomou da espada e se lançou sobre ela”[1Sm 3.14]. Algo notável é que Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus mas ficou com os habitantes de Jades-Gileade [1 Sm 31.11-13]: “ Então, ouvindo isto os moradores de Jades-Gileade, o que os filisteus fizeram a Saul, todos os homens valentes se levantaram, e caminharam toda a noite, e tiraram o corpo de Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-Seã, e, vindo a Jabes, os queimaram. Tomaram-lhes os ossos, e os sepultaram debaixo de um arvoredo, em Jabes, e jejuaram sete dias”. Ainda, é importante observar que Saul teve seis filhos, mas apenas três foram mortos naquela batalha, Jônatas, Abinadabe e Malquisua. “ Morreu, pois, Saul, e seus três filhos, e o seu escudeiro, e também todos os seus homens foram mortos naquele dia com ele” [1 Sm 31.6].


Portanto, diante de tais evidências, não podemos jamais afirmar que naquela “sessão espírita” com a feiticeira de En-Dor aquele “ser”, ou entidade, seria Samuel, mas uma mentirosa, já que as profecias não se cumpriram como foram feitas.


Devemos atentar para a Escritura Sagrada, quando esta nos diz que satanás pode se transfigurar em anjo de luz [2 Co 11.14] isto é, ele pode se transformar em quem ele desejar, com a finalidade de enganar a muitos [Mt 24.24] e que sua finalidade é matar, roubar e destruir [Jó 10.10].


Muitos falsos profetas e falsos ensinos têm surgido com a finalidade de nos destruir. Quanto a isso Paulo nos manda considerarmos essas pessoas como anátemas, como amaldiçoados.


Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” [Gl 1.8,9].

Um comentário:

Ricardo Mamedes disse...

Olá Danilo,

Ficou ótimo o post, bem completo. Aqui você quis dar ênfase aos pormenores da história. Lá eu foquei no Flávio Josefo e no seu entendimento sofismático.

Mas a própria Bíblia arremata tudo ao asseverar sobre o erro de Saul e a sua infidelidade. - "Assim morreu Saul por causa da sua infidelidade para com o Senhor, porque não havia guardado a palavra do Senhor; e também porque buscou a adivinhadora para a consultar, e não buscou ao Senhor; pelo que ele o matou, e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé" (1Cronicas 10:13-14). Essa citação foi uma contribuição de um irmão ao meu post, que certamente cristaliza o entendimento esposado.

NEle.

Ricardo