Sua teologia foi uma síntese entre a piedade sacramental anglicana, os escritos devocionais dos pais orientais, o misticismo católico medieval, a teologia prática puritana e a ênfase evangelística dos morávios, fundidos com os temas principais da tradição da Reforma, que estavam presentes em seus sermões.
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Ainda que em aspectos importantes se tenha afastado da tradição luterana e reformada, John Wesley reconheceu, em 1745, que sua teologia estava “a um fio de cabelo” do pensamento de João Calvino: “Ao atribuir todo o bem à livre graça de Deus. Ao negar o livre-arbítrio natural e o poder antecedente à graça. E, ao excluir o mérito humano; mesmo para o que ele realizou ou pratica pela graça de Deus”. Isso é exemplificado numa conversa que Charles Simeon, ministro da Holy Trinity Church, em Cambridge, teve com Wesley, em 1784:
Senhor, sei que o chamam de arminiano, e algumas vezes sou chamado de calvinista; portanto, deveríamos desembainhar as espadas. Porém, antes de consentir em iniciar o combate, permita-me fazer-lhe algumas perguntas [...] Diga-me: o senhor se sente uma criatura depravada, tão depravada que nunca teria pensando em voltar-se para Deus, se ele não tivesse coloca isso em seu coração?
Sim [replicou o veterano], sinto-o realmente.
E não tem esperança alguma de tornar-se aceitável perante Deus por qualquer coisa que possa fazer por si; e espera na salvação exclusivamente através do sangue e da justiça de Cristo?
Sim, unicamente por meio de Cristo.
Mas, senhor, supondo-se que foi inicialmente salvo por Cristo, não poderia de alguma outra forma salvar-se depois, através de suas próprias obras?
Não, mas terei de ser salvo por Cristo do princípio ao fim.
Admitindo, portanto, que foi inicialmente convertido pela graça de Deus, o senhor, de um modo ou de outro não tem que se manter por suas próprias forças?
Não.
Nesse caso, então, o senhor tem que ser mantido, cada hora e momento, por Deus, tal como uma criança nos braços de sua mãe?
Sim, inteiramente.
E toda sua esperança está firmada na graça e misericórdia de Deus, para ser preservado até o seu reino celeste?
Sim, não tenho esperanças senão nele.
Então, senhor, com sua permissão embainharei novamente a minha espada; pois este é todo o meu calvinismo, esta é a minha eleição, minha justificação pela fé, minha perseverança final; em suma, é tudo quanto sustento, e como o sustento; portanto, se lhe parecer bem, em lugar de buscarmos termos e frases que serviriam de base para luta entre nós, unamo-nos cordialmente naquelas coisas sobre as quais concordamos.
Extraído do livro “Gigantes da Fé”, de Franklin Ferreira, editora Vida, pg. 236-239. 2006.