domingo, 12 de abril de 2009

"Uso e Significado da Palavra “Amém” "

Colaboração do irmão rev. João Alves dos Santos*, que gentilmente se dispôs a fazer este excelente estudo para o nosso blog.

“Amém” é uma palavra hebraica que significa “verdadeiramente”. Ela é derivada de um verbo que significa “ser firme” ou “ser verdadeiro”. É usada duas vezes em Isaías 65.16 para referir-se a Deus como “o Deus da verdade”, como é traduzido em nossas versões, o que equivale a “o Deus verdadeiro”. No hebraico, a expressão é o “Deus do Amém”. O mesmo uso é encontrado no Novo Testamento, em 2Coríntios 1.20, quando Paulo diz: “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio”.

A palavra foi transliterada para o grego, assim como para as demais línguas em que a Bíblia foi traduzida, tornando-se, assim, um termo universal. É por isso que a temos igualmente em português. Ela é usada na Bíblia também como modo de expressar um desejo, confirmar uma afirmação, aceitar a validade de uma maldição, fazer um juramento ou ainda para juntar-se a alguém em um cântico de louvor ou doxologia. Em Jeremias 28.5-6, o profeta responde ao outro profeta Hananias com um “Amém”, expressando seu desejo de que a profecia proferida por este se cumprisse. Ele diz: “Amém! Assim faça o SENHOR; confirme o SENHOR as tuas palavras, com que profetizaste, e torne ele a trazer da Babilônia a este lugar os utensílios da Casa do SENHOR e todos os exilados”. Em Números 5.20-22, a mulher que fosse acusada de adultério por um marido ciumento deveria responder com um duplo “amém” ao juramento de maldição que o sacerdote proferia, para concordar com esse juramento. Em Deuteronômio 27.15-26, o povo deveria responder com um “Amém” às maldições que eram invocadas pelos levitas para aquele que cometesse práticas contrárias à lei e abomináveis ao Senhor. Há ali doze maldições a que o povo deveria responder com o “Amém”. Em Neemias 5.1-13, Neemias repreende os nobres e magistrados pela prática da usura contra os seus irmãos judeus e os faz prometer que devolveriam aquilo que injustamente haviam tomado deles. Essa promessa foi feita com juramento e uma sentença de maldição ao que não a cumprisse, e todo o povo respondeu com um “Amém”. Foi também assim que Jeremias respondeu a Deus quando este invocou uma maldição sobre aqueles que não cumprissem a aliança estabelecida com seus pais, desde a saída do Egito. E Jeremias disse: “Amém, ó Senhor” (Jr 11.5).

O “Amém” era também o modo como o povo respondia às orações e louvores dirigidos a Deus ou às bênçãos invocadas sobre ele pelos seus líderes, como vemos em Nemias 8.6 e 1Crônicas 16.36, ou como o próprio adorador concluía a sua oração ou o seu louvor, como nos Salmos 41.13; 72.19 e 89.52.

O mesmo uso da palavra encontramos no Novo Testamento. O Senhor Jesus é chamado de “Amém” e “testemunha fiel e verdadeira”, em Apocalipse 3.14, em consonância com o uso de “Amém” como um dos títulos de Deus no Antigo Testamento, como vimos em Isaías 65.16. A palavra “verdade”, encontrada em João 1.14,17 e 14.6, em referência a Jesus, vem da mesma raiz da palavra “amém”. Por esta razão ele podia usar, como usou freqüentemente, a expressão “em verdade vos digo”, às vezes com um duplo “em verdade”, antes de suas afirmações, pois ele é a verdade e o seu testemunho é verdadeiro (João 3.3,5,11; 10.1, etc.). Em grego essa expressão é “Amém, amém”.

Da mesma forma como no Antigo Testamento, a Igreja Cristã, nos dias dos apóstolos, costumava responder às orações congregacionais com um “amém”, como ainda fazemos hoje. É por isso que Paulo condena em 1Coríntios 14.14-16 os que oravam em outra língua e impediam aqueles que não a entendiam (que ele chama de indoutos) de dizer o “amém” depois da oração.

É com o “Amém” que as orações, as doxologias e as bênçãos que encontramos nas epístolas terminam. Também é com o “Amém” que encontramos os anjos louvando a Deus em Apocalipse 7.11-12: “Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!” . Também é assim que os vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes louvam e adoram a Deus, nesse mesmo livro, dizendo: “Amém! Aleluia!” (Ap 19.4). E é com o “Amém” que o livro de Apocalipse se encerra, com a promessa de Jesus, “Certamente, venho sem demora”, ao que João responde “Amém. Vem Senhor Jesus!” (Ap 22.20).

“Amém”, portanto, é uma das palavras mais significativas da nossa fé cristã. Devemos usá-la como expressão de nossa obediência a Deus e às suas ordens, como modo de revelar nossa submissão e aceitação à sua disciplina, quando necessário, e como manifestação do nosso desejo de ver a sua vontade sendo feita e o seu reino sendo conhecido em todo o mundo. Não é uma palavra para ser usada de modo mecânico ou inconseqüente, como muitas vezes acontece, sem que se tome consciência do que ela significa ou do que se está dizendo. Não é apenas uma fórmula para alguém se manifestar durante as orações ou para terminá-las ou para encerrarmos o culto. É mais do que isso. É, muitas vezes, um juramento que fazemos a Deus de obedecer a sua palavra, quando a ouvimos, ou a afirmação de que concordamos com aquilo que está sendo dito, por Deus ou por alguém que nos fala em seu nome, ou por alguém que nos conduz a ele em oração. Ao cantarmos o “amém tríplice”, no final do culto, estamos dizendo que concordamos com tudo o que aconteceu ali, com o louvor do qual participamos, com as orações que elevamos a Deus e com a mensagem que recebemos da parte do Senhor, e ainda estamos afirmando estar dispostos a cumprir o que nos foi ordenado e o que prometemos durante o culto. É, portanto, coisa séria, pois ao dizer “Amém” nós estamos invocando o próprio nome de Deus.


*Professor Assistente de Teologia Exegética (NT) e Coordenador de Educação a Distância da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP. É graduado em teologia pelo Seminário Presbiteriano Conservador (B.Th., 1963); mestre em Divindade e em Teologia do AT pelo Faith Theological Seminary (M.Div., 1973, e Th.M., 1974) e mestre em Teologia do NT pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (Th.M., 1985). É também graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Bauru, SP (1969) e em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Prof. José A. Vieira, em Machado, MG (1981). Foi professor de Grego e Exegese do NT no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1980-2004) e professor de Teologia Sistemática no Seminário Presbiteriano Conservador (1974 -2004). Foi também professor de Grego e Exegese do NT no Seminário Presbiteriano do Sul (1980 a 1986) e o primeiro coordenador do CPAJ (1991). É ministro da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil e membro do corpo editorial da revista Fides Reformata

8 comentários:

Danilo Carlos disse...

É por isso que devemos sempre estar atentos ao que está sendo dito nas orações e falarmos Amém para aquilo que verdadeiramente for de acordo com a palavra de Deus, principalmente quando estamos em outras igrejas.

Como o Rev. João Alves mesmo comentou, o Amém nas orações não serve como forma de participação humana no culto e nem como forma de se mostrar presente no mesmo (como às vezes vemos muitos "gritando" o amém ao invés de pronuncia-lo), mas serve como forma de mostrar nossa aceitação à Palavra de Deus.

Marcello de Oliveira disse...

Shalom Danilo!

1. Parabéns por este texto do Rev João Alves dos Santos. No texto de Isaías 65.16 o nome de Deus que aparece ali é: "Elohey Amén". Agora, permita-me ampliar este belo e didático estudo, dizendo que na cultura judaica, a palavra "Amém" é o acróstico da frase: El Méler Neeman. Quando você "pega" as primeiras letras de cada palavra no original, forma a palavra "Amém". Portanto, na cultura judaica, quando eles dizem "Amém" - significa: Deus Rei é Fiel para cumprir suas promessas. Isto nos remete ao texto de II Co 1.20

um grande abraço, Pr Marcello de Oliveira

http://davarelohim.blogspot.com

Cláudia Melo disse...

Como o próprio Reverendo falou infelizmente o “Amém” vem sendo pronunciado de modo mecânico e inconseqüente, não contendo nada de verdadeiro.

Mas o que mais me intriga e me deixa triste é que, às vezes, nós mesmos fazemos isso!!! Não levamos em consideração que estamos fazendo um juramento e invocando o nome Santo de DEUS.

Alguns gritam equivocadamente, outros nem o pronunciam, mas que nós possamos fazer parte daqueles que verdadeiramente querem obedecer a Deus e sermos submissos a sua vontade, e se falharmos, que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos exorte bem como esta palavra do Reverendo nos exortou, e nos lembremos que Ele é três vezes Santo sendo necessário invocá-lo e adorá-lo reverentemente e não mecanicamente!!! Amém!

Cláudia Melo

Danilo Carlos disse...

Bem lembrado, Cláudia. Realmente, às vezes nós mesmo falamos equivocadamente o Amém sem mesmo estar atento à oração e esquecendo do significado da palavra (significado que foi incrementado pelo Marcello de Oliveira).

Comente sempre, viu Cláudia... No decorrer do tempo vamos ganhando mais adeptos nos comentários do blog!!!

Danilo Neves disse...

"A repetição é uma maneira de dar ênfase. Em português, quando queremos enfatizar algo, podemos fazer de várias formas. Podemos sublinhar os termos importantes ou imprimí-los em itálico ou negrito. Podemos também colocar um ponto de exclamação depois das palavras ou ainda grafá-las entre aspas. Essas são maneiras de chamar a atenção do leitor para algo que seja particularmente importante.

O judeu do A.T. também possuía diversas técnicas para indicar ênfase. Uma delas era a repetição. Vemos isso nas palavras de Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo..." Aqui, o uso dobrado da expressão era um sinal de que ele ia dizer algo muito importante. O vocábulo traduzido como "em verdade" é o antigo termo "amém". Normalmente pensamos na palavra "amém" como aquilo que as pessoas dizem no final de um sermão ou de uma oração. Ela significa simplesmente "é verdade". Jesus a usava como uma introdução, em vez de uma resposta"

R.C.Sproul

Danilo Neves disse...

Caros Danilo e Claudinha:

Aprendemos que a palavra "amém" significa "é verdade". A questão é: posso eu responder a Deus com lábios impuros que ousam dizer o amém quando de fato digo "mentira"?

Estamos diante de Deus, santo e onisciente, cultuando-o. Cantamos, oramos e escutamos a pregação sem prestarmos atenção em nada. Temos curtos momentos de concentração talvez. Não estamos ali por motivo de culto solene, mas nos levantamos e sentamos de acordo com a liturgia somente. Por fim e por 3 vezes cantamos o "Amém!" e assim triplicamos a mentira. E o pior, saímos e criticamos todas as partes do culto, especialmente a pregação que foi demorada, repetitiva e por aí vai..., mas no fim, apesar disso, dizemos "amém".

Se isso não for pecados mecanizados, é o quê então? Pra isso tudo Satanás diz o mesmo amém que nós dizemos!! Eu diria que o estudo do reverendo João ainda arremeçou uma verdade grande demais, que não cabe nos cultos de hoje, desde os mais modernos até os mais rígidos em liturgia: "É, portanto, coisa séria, pois ao dizer “Amém” nós estamos invocando o próprio nome de Deus".

Que nas nossas próximas orações e nos próximos cultos nos lembremos disso, antes que o Senhor diga "amém" lá dos céus e execute a Sua disciplina em nós ou extermine alguns daqueles que invocam o Seu Nome em vão! Para os que obedecem, bençãos, para os que não obedecem, maldição. E não consideremos somente as misericórdias de Deus! Deus age com justiça além de agir com misericórdia. Não tomemos o seu Santo Nome em Vão.

Danilo Neves disse...

Caro pr. Marcello:

Com o seu apreço pela cultura judaica, nos trouxe mais informação e conteúdo para reflexão. Apenas uma dúvida minha: os judeus tinham duas maneiras de dizer o "amém": uma dizendo "é verdade" e a outra significando "Deus Rei é Fiel para cumprir suas promessas" ? Posso pensar assim? O seu comentário me fez lembrar de um dos símbolos do cristianismo, o peixe. Recentemente aprendi com os irmãos Floriano e Pabline que ele é também um acróstico para o nome Jesus, muito usado durante o desenvolvimento da igreja primitiva.

Grande abraço, pr.

Marcello de Oliveira disse...

Shalom Danilo!

1. Não precisa publicar - ok. Não, os judeus apenas tinham a forma que falei acima: Deus Rei é Fiel. O hebraico é uma lingua consonantal. Então as palavras se assemelham muito. É o caso da palavra Amém, que parece muito com Emet [verdade]. Outro exemplo é Baruch :"abençoar, louvar". Está ligado a "berachá" ; benção, "berech": joelho.

um abração, Marcello