segunda-feira, 23 de março de 2009

"Arminianos, ouçam Armínio!"

A posição evangélica dominante nos dias de hoje identifica-se com o teólogo holandês Jacó Armínio, pelo que nos debates teológicos é designada como arminianismo. O que muitos não sabem é que Armínio era bem mais "calvinista" que os arminianos atuais imaginam ou gostariam de saber. Se eles soubessem o que ele escreveu a respeito de alguns assuntos importantes no debate sobre a salvação, poderiam não se tornar calvinistas, mas pelo menos seriam arminianos melhores.

Descobririam, por exemplo:

a) Que ele recomendava a leitura da obra de Calvino

"Depois da leitura das Escrituras..., e mais do que qualquer outra coisa,... eu recomendo a leitura dos Comentários de Calvino ... Pois afirmo que na interpretação das Escrituras Calvino é incomparável, e que seus Comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legada nos escritos dos pais — tanto assim que atribuo a ele um certo espírito de profecia no qual ele se encontra em uma posição distinta acima de outros, acima da maioria, na verdade, acima de todos." (Carta escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em P. van Limborch e C. Hartsoeker, Praestantium ac Eruditorum Virorum Epistolae Ecclesiasticae et Theologicae (Amsterdam, 1704), nº 101).

b) Que ele cria na doutrina da providência

"Nesta definição de Providência Divina, eu de forma alguma a privo de qualquer partícula daquelas propriedades que concordam ou pertencem a ela; mas eu declaro que ela preserva, regula, governa e dirige todas as coisas e que nada no mundo acontece acidentalmente ou por acaso. Além disto, eu coloco em sujeição à Providência Divina tanto o livre-arbítrio quanto até mesmo as ações de uma criatura racional, de modo que nada pode ser feito sem a vontade de Deus, nem mesmo as que são feitas em oposição a ela , somente devemos observar uma distinção entre as boas e as más ações, ao dizer, que "Deus tanto deseja e executa boas ações," quanto que "Ele apenas livremente permite as que são más." Além disto ainda, eu muito prontamente admito, que até mesmo todas as ações, sejam quais forem, relativas ao mal, que possam possivelmente ser imaginadas ou criadas, podem ser atribuídas ao Emprego da Divina Providência, tendo apenas um cuidado, "não concluir deste reconhecimento que Deus seja a causa do pecado." (Works, vol 1: The providence of God)

c) Que ele cria nos decretos divinos

"Os decretos de Deus são os atos extrínsecos de Deus, ainda que sejam internos, e, por essa razão, feitos pelo livre-arbítrio de Deus, sem qualquer necessidade absoluta . Todavia um decreto parece exigir a suposição de outro, a bem de uma certa conveniência de igualdade; como o decreto relativo à criação de uma criatura racional, e o decreto relativo à salvação ou condenação [dessa criatura] sob a condição de obediência ou desobediência. A ação da criatura também, quando considerada por Deus desde a eternidade, pode algumas vezes ser a ocasião, e algumas vezes a causa motriz externa de criar algum decreto; e isto de tal forma que sem tal ação [da criatura] o decreto não seria nem poderia ser feito. (...) Embora todos os decretos de Deus foram feitos desde a eternidade, todavia uma certa ordem de prioridade e posterioridade deve ser formulada, de acordo com sua natureza, e a relação mútua entre elas." (Works, vol 2: On decree of God)

d) Que ele cria na predestinação

"O primeiro na ordem dos decretos divinos não é o da predestinação, pela qual Deus preordenou para fins sobrenaturais, e pela qual ele resolveu salvar e condenar, declarar sua misericórdia e sua justiça punitiva, e ilustrar a glória de sua graça salvadora , e de sua sabedoria e poder que concordam com aquela mais livre graça.(...) Os eleitos não são chamados "vasos de misericórdia" na relação de meios para o fim, mas porque a misericórdia é a única causa motriz, pela qual é feito o próprio decreto da predestinação para salvação." (Works, vol 2: On predestination to salvation)

e) Que ele cria na imperdibilidade da salvação

"Embora eu aqui, aberta e sinceramente, afirmo que eu nunca ensinei que um verdadeiro crente pode, total ou finalmente, abandonar a fé, e perecer; todavia não nego que haja passagens da Escritura que me parecem apresentar este aspecto; e as respostas a elas que tive a oportunidade de ver não se mostraram, em minha opinião, convincentes em todos os pontos. Por outro lado, certas passagens são fornecidas para a doutrina contrária [da perseverança incondicional] que merecem especial consideração." (Works, vol 1: The perseverance of the saints).
De minha parte, ficaria muito feliz se os atuais arminianos firmassem posição com Jacó Armínio. Pois já estaríamos no lucro.


Autor: Clóvis
Fonte: http://cincosolas.blogspot.com/2008/08/arminianos-ouam-armnio.html

6 comentários:

Danilo Neves disse...

O Arminianismo teve um início e nesse início ele não tinha a forma de teologia que conhecemos hoje, conforme as citações dos originais no post. Parece-me que os discípulos de Armínio foram quem deram essa forma, infelizmente.

Breve introdução pelo Dr. John Murray quanto ao assunto do post:

"O Arminianismo deriva seu nome de Tiago Armínio (Jacobus Arminius), um ministro da Igreja Reformada na Holanda, que viveu de 1560 a 1609. Ele se tornou Professor de Teologia na Universidade de Leyden, em 1603. Foi particularmente durante o período de sua atividade como professor em Leyden que ele deu expressão aos rompimentos com a Fé Reformada, os quais desde então têm sido associados ao seu nome. Armínio morreu em 1609, mas ele deixou discípulos que continuaram a ensinar e desenvolver suas doutrinas.

Em 1610, um documento conhecido como o “Remonstrance” [protesto, censura], e freqüentemente chamado de “Os Cinco Artigos Arminianos”, foi assinado por 46 ministros e apresentado às autoridades civis das Províncias Unidas. Esses artigos apresentam a doutrina dos “Remonstrantes” ou Aminianos, como eles vieram a ser chamados, nos assuntos da predestinação, a extensão da expiação, a causa da graça salvadora e a perseverança. Esses artigos eram tantos negativos como positivos - eles negavam uma doutrina e afirmavam outra.

Nos estágios iniciais da controvérsia, o significado e a implicação precisa de alguns dos pontos não se tornaram explícitos; mas, à medida que o conflito precipitado pelos Remonstrantes se desenvolveu, tornou-se evidente que os cinco pontos da Fé Reformada que os Arminianos estavam particularmente insistindo em negar eram: predestinação incondicional, expiação limitada, depravação total, graça irresistível e a perseverança dos santos. Os Calvinistas afirmavam estes e os Arminianos negavam.

Estes cinco pontos não definem para nós o que a Fé Reformada ou o Calvinismo é. A Fé Reformada é um sistema de verdade e é muito mais abrangente do que quaisquer cinco pontos que possam ser enumerados, embora os mesmos sejam importantes e essenciais nele. Contudo, nestes cinco pontos atacados pelos Arminianos, o sistema da verdade conhecido como Calvinismo pode-se dizer ser consolidado. Eles expressam o que este sistema é, em oposição ao sistema Arminiano ou qualquer outro sistema que, de forma similar, lhe for oposto. Eles sempre continuarão a ser pontos decisivos, nos quais o conflito é unido com qualquer sistema de pensamento, que é movido por uma inclinação Arminiana, e dirigida pelos mesmos princípios básicos.

Nenhum de nós pensará que o erro do Arminianismo está confinado a estes cinco pontos. O Arminianimo é uma teologia, e a diferença entre esta teologia e a teologia da Igreja Reformada se expressa em muitos outros pontos. O erro da teologia Arminiana é, contudo, resumido naqueles cinco pontos; e assim, a grande parte da controvérsia no passado está, de uma forma totalmente justificável, relacionada às doutrinas enunciadas neles. Que isto é verdade na realidade, tem sido demonstrado pela história."

http://www.monergismo.com/textos/arminianismo/fe_reformada_arminianismo1_murray.htm

Leonardo Bruno Galdino disse...

Muito boa postagem, Danilo!

Também fiz um blog para a juventude de minha igreja. O endereço é unijovempinda.blogspot.com.

Visite-nos!

Saudações calvinistas!!! ;-)

Danilo Carlos disse...

Interessante Post. Sabia de algumas coisas sobre a convicção não Arminiana de Arminius, mas não sabia disto tudo.

Bastante informativo...

Anônimo disse...

Amado,

Obrigado por publicar meu artigo e indicar meu blog.

Deus o abençoe.

Em Cristo,

Clovis

Filósofo Calvinista disse...

Danilo:

Seu blog é muito bem articulado. Interessante essa postagem. Sabia que Arminius tinha sido calvinista, mas que ele continuou calvinista em muitos de seus pensamentos e convicções é sempre uma boa surpresa. Vou guardar com carinho para mostrar a todo arminiano que conheço..rs. Ah! A conclusão daquela postagem sobre o princípio regulardor do culto está quase pronta. Não concluí ainda por questão de tempo mesmo.
Tudo de bom!

Filósofo Calvinista disse...

Danilo:

Seu blog é muito bem articulado. Interessante essa postagem. Sabia que Arminius tinha sido calvinista, mas que ele continuou calvinista em muitos de seus pensamentos e convicções é sempre uma boa surpresa. Vou guardar com carinho para mostrar a todo arminiano que conheço..rs. Ah! A conclusão daquela postagem sobre o princípio regulardor do culto está quase pronta. Não concluí ainda por questão de tempo mesmo.
Tudo de bom!