terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Que Diz o N.T. Sobre o Anticristo? (2 de 3)

O ensino neotestamentário mais claro acerca do anticristo futuro é encontrado nos escritos de Paulo, no assim chamado “pequeno apocalipse” de 2 Tessalonicenses 2. Embora o termo anticristo não seja usado nesta passagem, a maioria dos comentaristas, conforme mencionamos, identifica o “homem da iniquidade” de Paulo com o anticristo de João. Em 2 Tessalonicenses 2.1-12, Paulo está dizendo a seus leitores - muitos dos quais pensam que a segunda vinda de Cristo já estava em processo - , que certas coisas precisavam primeiramente acontecer antes que venha o “dia do Senhor”. Um destes acontecimentos é a grande apostasia ou rebelião... O outro evento, ao qual dedicamos agora nossa atenção, é o surgimento do “homem da iniquidade”.

São ditas várias coisas acerca do “homem da iniquidade” nessa passagem:

1) Ele aparecerá na grande apostasia ou rebelião. Observe como essas duas figuras são vinculadas no verso 3: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da iniquidade”.

2) Ele será uma pessoa. A descrição fornecida neste capítulo não pode se referir a nada além de uma pessoa definida. Ele é denominado o “homem da iniquidade, o filho da perdição” (v. 3), o qual se opõe (ho antikeimenos) e se levanta contra tudo que se chama Deus, ou objeto de culto (v. 4). É dito que ele se assenta no santuário de Deus (v. 4), que algo agora o está detendo, e que ele será revelado a seu tempo (v. 6). É dito mais adiante que o Senhor Jesus o matará com o sopro de sua boca (v. 8). Embora Paulo diga que “o mistério da iniquidade já opera” (v. 7) no mundo, em seus dias, ele claramente prediz a vinda de um homem da iniquidade final antes que Cristo venha de novo. Portanto, o que não está totalmente claro, no ensino de João acerca do anticristo, fica claro aqui: haverá um anticristo final e pessoal antes que venha o dia do Senhor. Embora alguns tenham sugerido que devamos ler Paulo à luz de João, e outros tenham dito que devamos ler João à luz de Paulo, eu creio que devemos levar em conta ambas as abordagens. Não existe um conflito básico entre estas duas abordagens, uma vez que, conforme já vimos, João deixa espaço para a vinda de um anticristo pessoal no futuro, e Paulo reconhece que as forças do anticristo já estão operando no mundo (v. 7).

3) O homem da iniquidade será objeto de adoração. Ele não somente se oporá a tudo que se chama Deus e é adorado, mas irá também “assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (v. 4). Em outras palavras, ele se oporá a toda forma de adoração exceto à adoração dele próprio, a qual ele exigirá e imporá à força. A expressão “assentar-se no santuário de Deus” não deveria ser entendida como implicando que haverá novamente um templo judaico literalmente entendido na época da volta de Cristo, nem como sugerindo que o homem da iniqüidade surgirá na igreja, que é o correspondente neotestamentário do templo do Antigo Testamento. Provavelmente, é melhor entender esta expressão como uma descrição apocalíptica da usurpação da honra e adoração que deveria ser rendida unicamente a Deus. Herman Ridderbos pondera da seguinte forma: “Assentar-se no templo é um atributo divino, é usurpar para si a honra divina”. Nem é necessário dizer que esta exigência do homem da iniquidade, em ser adorado, envolverá perseguição severa para o verdadeiro povo de Deus, que rejeitará esta exigência. Essa, então, será a “grande tribulação” predita por nosso Senhor. Em outras palavras, a intensificação culminante da tribulação, que é um dos sinais dos tempos, coincidirá com o aparecimento do homem da iniquidade.



Anthony Hoekema


Referencial teórico

HOEKEMA, A. A. A Bíblia e o Futuro. Editora Cultura Cristã, 2 edição, pg. 180-190. São Paulo - SP, 2001.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Que Diz o N.T. Sobre o Anticristo? (1 de 3)

“O termo anticristo (antichristos) é encontrado apenas nas epístolas de João (1Jo 2.18, 22; 4.3; 2Jo 7). O significado original do prefixo grego anti é “em vez de” ou “em lugar de”. Nesse sentido, antichristos significa um Cristo substituto ou Cristo rival. Contudo, desde que o anticristo é retratado no Novo Testamento também como o adversário declarado de Cristo, podemos combinar ambas as idéias: o anticristo é tanto um Cristo rival como um oponente de Cristo.

Em 1Jo 4.2,3 o termo anticristo é utilizado obviamente num sentido impessoal: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem, e presentemente já está no mundo”. A principal heresia que João estava combatendo, em sua primeira epístola, era um gnosticismo incipiente. Um dos erros desses primeiros gnósticos era negar a genuína encarnação de Cristo. Uma vez que a matéria era considerada como má, eles ensinavam que Deus não poderia entrar num corpo genuíno, e que Cristo, por causa disso, teve apenas um corpo aparente (ou docético) enquanto estava sobre a terra. Isto, aos olhos de João, era uma heresia tão mortal que retirava o cerne do evangelho. Se Cristo não tivesse assumido uma natureza humana genuína, com um corpo humano genuíno, então o homem não teria um verdadeiro Mediador, nenhuma expiação teria sido feita por nós, e ainda estaríamos em nossos pecados. Por esta razão, João diz que negar que Cristo veio em carne (isto é, assumiu um corpo humano genuíno) é revelar o Espírito do anticristo. Deve ser observado, entretanto, que aqui João fala do anticristo apenas de modo impessoal.

João expressa a mesma idéia de modo mais pessoal em 1Jo 2.22: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo (ho antichristos), o que nega o Pai e o Filho”. Aqui o antricristo é considerado como uma pessoa, uma vez que o artigo definido foi usado junto com a palavra. Mas ele é considerado como uma pessoa que já está presente nos dias de João – na verdade, como alguém que representa um grupo de pessoas. A heresia aqui denominada de anticristo é aquela que postula um abismo intransponível entre um Jesus meramente humano e um Cristo divino e docético (e por causa disso não-humano).
No mesmo sentido vem a passagem da segunda epístola de João: “Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo afora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo (ho antichristos)” 2Jo 7. Novamente, João fala em termos pessoais: o anticristo. Mas novamente, como na passagem recém-citada, o anticristo é um termo usado para descrever várias pessoas que sustentam essa heresia fatal – pessoas que já estavam no mundo da época em que João escrevia.

Em 1Jo 2.18, porém, João fala tanto de um anticristo, que ainda está vindo, como de anticristos que agora já estão presentes: “Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora”. As palavras: “como ouvistes que vem o anticristo” indicam que João efetivamente esperava um anticristo pessoal no fim dos tempos, assim como a igreja cristã primitiva. Provavelmente, ele estava familiarizado com o ensino de Paulo acerca do “homem da iniqüidade”, referido na segunda carta aos Tessalonicenses 2, que tinha sido escrita muito antes. Ele também estaria familiarizado com os ensinos acerca desse futuro oponente de Deus e de Cristo encontrado em Daniel e nas palavras do próprio Cristo. Portanto, não é correto dar a impressão de que João não aguarda um anticristo futuro em nenhum sentido; nessa passagem, lembra ele seus leitores acerca de algo que eles já conhecem: “como ouvistes que vem o anticristo”. Mas João também vê vários anticristos no mundo de seus dias: falsos mestres que negam que Cristo tenha vindo em carne. Nós poderíamos chamar esses falsos mestres de precursores do anticristo final. Uma vez que João já via estes “muitos anticristos” no mundo, ele conclui que nós agora, na era presente, estamos na “última hora”. Dessa forma, podemos esperar continuar a encontrar pessoas e poderes do anticristo em cada era da Igreja de Jesus Cristo até sua segunda vinda. Esse sinal dos tempos, portanto, assim como os outros, caracteriza toda a era da Igreja entre as duas vindas de Cristo, e possui relevância para a Igreja hoje. Precisamos constantemente estar em guarda contra anticristos e contra ensinos e práticas de anticristos.

Resumindo, podemos admitir que a idéia de um anticristo único futuro não é muito proeminente nas epístolas de João; sua ênfase recai mais sobre os anticristos e idéias de anticristos que já estavam presentes em seus dias. Mesmo assim, não seria correto dizer que João não admite, em seu pensamento, um anticristo pessoal futuro, uma vez que ele ainda aguarda um anticristo que deverá vir."


Anthony Hoekema


Referencial teórico

HOEKEMA, A. A. A Bíblia e o Futuro. Editora Cultura Cristã, 2 edição, pg. 180-190. São Paulo - SP, 2001.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Morto Faz Alguma Coisa?

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados...” Ef 2.1



Ao escrever resumidamente aos santos que vivem em Éfeso (1.1) sobre o plano de Deus para a salvação de judeus e gentios (cf. 3.3), Paulo declara a condição espiritual daqueles que não estão “em Cristo”. E esta é a mensagem: o ímpio está tão indiferente a Deus quanto um cadáver. Ele não busca a Deus (Rm 3.11) e ainda que ele faça coisas boas no aspecto moral (cf. Lc 6.33, At 28.2, Rm 2.14), sua alma está morta. Longe de Deus há morte, escravidão e condenação (Ef 2.1-3), sintetiza o apóstolo.

Em Efésios, Paulo não desenvolve toda a sua idéia antropológica e nem sequer faz menção explícita quanto ao homem ser criado à imagem de Deus. Certamente isso foi intencional e o quadro exposto em Ef 2.1-3 tem uma forte ênfase na condição desesperadora da humanidade sem Deus. Se essa epístola terminasse nesses três primeiros versículos, não haveria esperança para o homem. De fato, assim entendemos, porque “morto” não ressuscita naturalmente (2.6), não doa ou produz a fé (2.8; Hb 12.2a), não pratica as boas obras de Deus (2.10) e, então, jamais se salvaria da ira vindoura (1Ts1.10).

Portanto, quando a Bíblia nos diz que estamos “mortos em nossos delitos e pecados”, ela está dizendo que somente Deus - o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Ef 1.3-14) - é o agente da nossa salvação. “Mas Deus... nos deu vida... nos ressuscitou... nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (2.4-6). “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (2.8). A linguagem que Paulo utiliza em Efésios deveria ser bastante clara para os cristãos, especialmente quando ele diz “mortos”.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nenhum Versículo da Bíblia diz Tudo

E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”
(João 14.13,14)

Uma jovem, se referindo a esse texto, me procurou dizendo: “... e quando pedimos e não acontece? Será que está nos faltando fé? Será que Deus não quer que seja assim? Mas, se Ele não quer, Ele não diria "Tudo". Poderia dizer apenas “aquilo que Ele aprovasse”, ou será que apenas não sabemos esperar?”

Essa jovem fez as perguntas certas sobre o texto, partindo inicialmente da interpretação que diz que toda oração é respondida. Na segunda parte da sua dúvida, ela muda de hipótese e passa a considerar que há uma outra maneira de entender João 14.13, especialmente em relação a palavra “tudo” do versículo.

De fato, a primeira impressão que temos ao lermos tais palavras de Jesus é que a oração feita no nome de dEle nos dá o direito de recebermos qualquer coisa que pedirmos, uma idéia muito comum na igreja evangélica de hoje. Para chegarmos nessa conclusão, precisamos ignorar totalmente outros textos da Bíblia ou selecionarmos alguns deles. Precisamos ter também uma atitude contrária a dessa jovem e literalmente “engolir” o que os teólogos das orações mágicas e instantâneas nos ensinam.

Minha intenção não é expor o texto do capítulo 14 do evangelho de João verso a verso, mas dar diretrizes para o entendimento dos versículos “problemas”. Em primeiro lugar, conforme a oração do Pai Nosso, toda oração do cristão deve estar debaixo da vontade de Deus. Isso está absolutamente implícito em “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”, ou seja, o que Jesus havia ensinado sobre oração antes de pronunciar tais palavras em Jo 14 continuava (e ainda continua) valendo. Seria muita incoerência do Filho de Deus dizer algo em Jo14.13,14 do tipo: “Peça-me o que você bem quiser que isso eu vou fazer sem qualquer problema. O que você quer é o querer do Pai”. A vontade de Deus é revelada nas Escrituras. Não há mistério quanto ao conhecê-la. Basta aos cristãos lerem a Bíblia e se orientarem somente pelo o que ela diz. Creio que, além de Jesus, o apóstolo João também não era contraditório e assim nos ensina em 1Jo 5.14,15: “E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito.” É o mesmo autor do texto “problema”!

Em segundo lugar, a finalidade da petição é para que “o Pai seja glorificado no Filho”. Daí eu pergunto: o que você pede em suas orações é para a glória de Deus? O que é “para a glória de Deus”? Uma das passagens que me veio a mente para tentar ilustrar melhor o que significa o Pai ser glorificado na oração é Jo 11.41-43, que diz: “Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste. Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste. E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!”. A oração de Jesus tinha sido ouvida pelo Pai e o propósito da oração do Senhor é bem claro: “para que creiam que tu me enviaste.” Jesus somente ressuscitou Lázaro por esse motivo e o milagre certamente ocorreu porque glorificava o Pai. Num sentido mais amplo, esse é precisamente o propósito do apóstolo ao escrever o seu evangelho.“Estes {sinais}, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” Jo 20.31 // “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;” Jo 1.11,12. João 17, outra oração do Senhor, particularmente os versículos 8,21,23,25, atesta para esse mesmo propósito. Portanto, creio que todas as nossas orações devem conter esse objetivo. Tudo o que pedirmos deve glorificar a Deus e foi isso que os apóstolos e os discípulos fizeram (em oração, na comunhão, no partir do pão...) depois que Jesus morreu, ressuscitou e subiu aos céus. E assim sabemos pelo livro de Atos, que desdobrou aquilo que Jesus havia dito em Jo 14.12: “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai.” Imediatamente depois, Jesus, então diz “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.”

Por último, considero extremamente difícil os evangélicos de hoje lerem Jo 14.14,15 com essas considerações, que precisam ser feitas para o correto entendimento do texto. Assim afirmo porque os pastores de hoje (me refiro a maioria) ensinam somente o versículo e com uma teologia que se fundamenta na avareza e na necessidade de exigirmos de Deus sempre o de bom e o do melhor que essa vida material nos oferece. Não se pensa “no todo”, mas “no versículo”. E não se pensa “em Reino”, mas se pensa “em si”.

sábado, 24 de outubro de 2009

Perguntas Difíceis de um Ateu para um Cristão

Richard Dawkins - o pop star do chamado Novo Ateísmo - em um debate com Alister McGrath, teólogo cristão reformado, levantou perguntas difíceis de serem respondidas e também difíceis de serem desconsideradas por nós, os cristãos. Abaixo estão algumas das questões do debate (que pode ser assistido aqui). Por elas terem sido transcritas, o texto se mostra muitas vezes truncado. Eis as alfinetadas do boca dura do Dawkins:

1. “O pecado parece ter sido de certa forma pago pela morte de Jesus, tortura e morte de Jesus. Alguém olhando de fora veria nisso uma doutrina bem desagradável porque temos uma idéia de punição como uma forma de pagar o pecado, que possui alguns aspectos desagradáveis ligados a isso. Também existe a idéia de punir alguém pelos pecados que ele não cometeu. Possuía a idéia de que, pelo menos para alguns teólogos, puni-lo pelos pecados que foram cometidos por Adão, que nem mesmo existiu. E para outros teólogos que incluem a idéia de pagar os pecados que ainda serão cometidos no futuro mesmo que as pessoas do futuro escolham não cometê-los. E finalmente nos deixam um tipo de sentimento confuso, quem ele {Jesus} está tentando impressionar, porque se ele realmente fosse uma das manifestações de Deus, se ele quisesse perdoar os nossos pecados, porque ele apenas não os perdoou, em vez de passar por toda aquela auto-tortura?”

2. “Você disse que não é um deísta, mas sim um cristão, existem, claro, outras formas de não ser um deísta. Você poderia ser um judeu, poderia ser mulçumano, poderia ser hindu. Todas elas são diferentes e elas se diferem exatamente nos mesmos tipos de detalhes de que você se sente tão seguro. Como você sabe que a crença em que você foi educado é a correta? E não a do deus abstrato dos físicos que estávamos falando mais cedo e que não faz todas essas reivindicações. Porque o cristianismo?”

3. “Quando você ouve que milhares de pessoas foram mortas, se afogaram ou explodiram, o que quer que seja, e você ouve que uma criança se salvou. E os pais dela agradecem a Deus por ter salvado essa criança. A ironia disso não mexe contigo? Quero dizer, Deus poderia ter salvado todas aquelas 10 milhões de pessoas. Porque ele salvaria essa única criança? Eu espero que você diga: “ele não salvou a criança, essa criança foi apenas sorte”. Mas existem muitas pessoas cuja crença em Deus, quase que inacreditavelmente eu acho, aumenta quando há um desastre desse tipo, ao contrário de diminuir. Como você analisa isso?”

4. “Na época dos ataques de 11 de setembro, um dos aviões não chegou ao alvo, caiu em um campo. Mais tarde, alguém disse que um dos passageiros havia provavelmente lutado com a tripulação e foi por isso que a coisa desandou. A esposa de um desses homens, eles ficaram sabendo isso pelo celular, disse que ela sentiu que seu marido, que havia lutado com os seqüestradores, foi um instrumento de Deus ao impedir que o avião alcançasse o seu alvo, talvez a Casa Branca. E meu amigo nos EUA que me enviou essa informação, disse, e eu achei muito racional: “Se Deus quisesse impedir que isso acontecesse, porque ele não deu ao seqüestrador um ataque cardíaco, ou outra coisa?” Porque ele teria que fazer as coisas dessa forma extraordinária, em que os passageiros tem que brigar com a tripulação e o avião se chocasse matando todos a bordo? E dois outros, três outros aviões chegaram ao alvo... Toda vez que há uma enorme catástrofe como essa, a fé das pessoas em Deus cresce. Eu acho isso totalmente bizarro.”

5. “Você acha que a Ciência e a Fé são incompatíveis?


Estamos preparados para respondê-las ou simplesmente ficaremos calados, guardando a nossa fé e, porque não, inteligência também?

antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo,” 1Pe 3.15,16

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Demonstração Racional do Monoteísmo - Atenágoras de Atenas*

"Que o Deus Criador de todo este universo seja um só desde o princípio, considerai-o do seguinte modo, a fim de que tenhais também o arrazoado da nossa fé:

Se, desde o princípio, tivesse havido dois ou mais deuses, certamente os dois teriam tido que estar em um só e mesmo lugar ou cada um, à parte, em seu lugar. Ora, é impossível que estivessem em um só e mesmo lugar, porque, sendo deuses, não seriam iguais, mas, como incriados, seriam desiguais. De fato, o criado é semelhante a seus modelos, mas o incriado não é semelhante a nada, pois não foi feito por ninguém, nem para ninguém. Se Deus é um só, como a mão, o olho e o pé são partes completivas de um só corpo, visto que delas se completa um só; Sócrates, sim, enquanto criado e corruptível, é composto e dividido em partes. Deus, porém, é incriado, impassível e indivisível. Portanto, não é composto de partes. Contudo, se cada um deles ocupa seu próprio lugar, sendo aquele que criou o mundo mais alto que todas as coisas e estando acima do que ele fez e ordenou, onde estará o outro ou os outros? Com efeito, se o mundo, que tem forma esférica perfeita, é limitado pelos círculos do céu, o Criador desse mesmo mundo está acima de tudo o que foi criado, conservando tudo com a sua providência, que lugar resta para o outro ou outros deuses? Porque não está no mundo, já que pertence a outro; nem em torno do mundo, pois o Deus Criador do mundo está acima deste. E se não está no mundo, nem em torno do mundo (porque tudo o que rodeia este é mantido pelo Criador), onde está? Acima do mundo e de Deus, em outro mundo e em torno a outro mundo? Mas se está em outro e em torno de outro, já não está em torno de nós (pois não tem poder sobre este mundo), nem é grande em si mesmo, pois está em lugar limitado. E se não está em outro mundo, porque tudo é repleto pelo criador do mundo, nem em torno a outro, porque tudo é mantido por este, então, definitivamente, não existe, pois não existe lugar onde esteja. O que é que faz, tendo outro de quem é o mundo e estando ele acima do Criador do mundo, mas não estando nem no mundo, nem ao redor do mundo? Existe, porém, um ponto de apoio em que se apóie aquele que foi feito contra aquele que é? Acima dele, porém, está Deus e as obras de Deus. E qual será o lugar, visto que o Criador preenche o que está acima do mundo? Tem providência? Não! Não tem providência também, porque não fez nada. Por fim, se nada faz, não tem providência, nem outro lugar onde esteja, existe, desde o princípio, um único e só: o Deus Criador do mundo.

Se nos contentássemos com esses argumentos de razão, poder-se-ia pensar que a nossa doutrina é humana. Entretanto, nossos arrazoados são confirmados pelas palavras dos profetas. Penso que vós, que sois amicíssimos do saber e intruidíssimos, não desconheceis os escritos de Moisés, nem de Isaías, Jeremias e outros profetas que, saindo de seus próprios pensamentos, por moção do Espírito divino, falaram o que neles se realizava, pois o Espírito se servia deles como flautista que sopra a flauta. Que dizem os profetas? "O Senhor é nosso Deus; não será contado nenhum outro com ele". E ainda: "Eu sou Deus antes e depois, além de mim não há Deus." Igualmente: "Antes de mim não existiu outro Deus, e depois de mim não existirá. Eu sou Deus e não há outro além de mim." E a respeito de sua grandeza: "O céu é o meu trono e a terra é o escabelo de meus pés. Que casa me edificarás, ou qual é o lugar do meu descanso?" Deixo para vós, inclinados sobre os livros deles, examinar mais as suas profecias, a fim de que, através de um raciocínio conveniente, recuseis a calúnia contra nós."




*Atenágoras (†180) - era provavelmente um filósofo cristão em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos ou Petição em favor dos cristãos, apologia oferecida em tom respeitoso ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cômodo contra as acusações de que os cristãos eram ateus, praticavam o incesto e a antropofagia; provavelmente escreveu também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos. Foi grande apologista, de escrita hábil e retórica!

Fonte: Padres Apologistas, editora Paulus, 3 edição, pg 128-130. 2005

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A Solidão de Deus

O título talvez não seja suficientemente claro para indicar o seu tema. Isso se deve, em parte, ao fato de que hoje em dia bem poucas pessoas estão acostumadas a meditar nas perfeições pessoais de Deus. Dos que lêem ocasionalmente a Bíblia, bem poucos sabem da grandeza do caráter divino, que inspira temor e concita à adoração. Que Deus é grande em sabedoria, maravilho em poder, não obstante, cheio de misericórdia, muitos acham que pertencem ao conhecimento comum; contudo, chegar-se a um conhecimento adequado do Seu Ser, da Sua natureza, dos Seus atributos, como estão revelados nas Escrituras Sagrada, é uma coisa que pouquíssimas pessoas tem alcançado nestes tempos degenerados. Deus é único na excelência do Seu Ser. “Ó Senhor, quem é como Tu entre os deuses? Quem é como Tu glorificado em santidade, terrível em louvores, operando maravilhas?”(Êxodo 15.11).

No princípio...Deus...”(Gênesis 1.1). Houve tempo se é que se lhe pode chamar “tempo”, em que Deus, na unidade de sua natureza, habitava só (embora subsistindo em três pessoas divinas). “No princípio...Deus...” Não existia o céu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glória. Não existia a terra, que Lhe ocupasse a atenção. Não existiam os anjos, que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do seu poder. Não havia nada, nem ninguém, senão Deus; e isso, não durante um dia, um ano ou uma época, mas “desde sempre”. Durante uma eternidade passada, Deus esteve só: completo, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando. Se um universo, anjos, ou seres humanos Lhe fossem necessários de algum modo, teriam sido chamados à existência desde toda a eternidade. Ao serem criados, nada acrescentaram a Deus essencialmente. Ele não muda (Malaquias 3.6), pelo que, no essencial, a Sua glória não pode ser aumentada nem diminuída.

Deus não estava sob coação, nem obrigação, nem necessidade alguma de criar. Resolver faze-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não produzido por nada alheia a si próprio; não determinado por nada, senão o Seu próprio beneplácito, já que Ele “faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade”(Efésios 1.11). O fato de criar foi simplesmente para a manifestação da Sua glória. Será que algum dos nossos leitores imagina que fomos além do que nos autorizam as Escrituras? Então, o nosso apelo será para a Lei e o Testemunho: “...levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade; ora bendigam o nome da tua glória, que está levantado sobre toda bênção e louvor”(Neemias 9.5). Deus não ganha nada, nem sequer com a nossa adoração. Ele não precisa dessa glória externa da Sua graça, procedente de Seus redimidos, porquanto é suficientemente glorioso em Si mesmo sem ela. Que foi que o moveu a predestinar Seus eleitos para o louvor da glória de Sua graça? Foi, como nos diz Efésios 1.5, “... o beneplácito de sua vontade”.Sabemos que o elevado terreno em que estamos pisando é novo e estranho para quase todos os nossos leitores; por essa razão faremos bem em andarmos devagar. Recorramos de novo às Escrituras. No final de Romanos capítulo 11, onde o apóstolo conclui sua longa argumentação sobre a salvação pela pura e soberana graça, pergunta ele: “Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? (vers. 35-35). A importância disto é que é impossível submeter o Todo-poderoso a quaisquer obrigações para com a criatura, Deus nada ganha da nossa parte. “Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá da tua mão? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria a um filho do homem”(Jó 35.7-8), mas certamente não pode afetar a Deus, que é bem-aventurado em Si mesmo. “...quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos somente o que deveríamos fazer”(Lucas 17.10)—nossa obediência não dá nenhum proveito a Deus.

Ainda mais, vamos além: nosso Senhor Jesus Cristo não acrescentou nada a Deus em Seu Ser essencial e a glória essencial do Seu Ser, nem pelo que fez, nem pelo que sofreu. É certo, bendita e gloriosamente certo, que Ele nos manifestou a glória de Deus, porém nada acrescentou a Deus. Ele próprio o declara expressamente, e não há apelação quanto às Suas palavras: “...não tenho outro bem além de ti” (Salmo 16.2; na versão usada pelo autor, literalmente: “...a minha bondade não chega a ti”). Em toda a sua extensão, este é um Salmo sobre Cristo. A bondade e justiça de Cristo alcançaram os seu santos na terra (Salmo 16.3), mas Deus estava acima e além disso tudo, pois unicamente Deus é “o Bendito”(Marcos 14.61, no grego).

É absolutamente certo que Deus é honrado e desonrado pelos homens; não em Seu Ser essencial, mas em Seu caráter oficial. É igualmente certo que Deus tem sido “glorificado” pela criação, pela providência e pela redenção. Não contestamos isso, e não ousamos fazê-lo nem por um momento. Mas isso tudo tem a ver com a Sua glória declarativa e com o nosso reconhecimento dela. Todavia, se assim Lhe aprouvesse, Deus poderia ter continuado só, por toda a eternidade, sem dar a conhecer a Sua glória a qualquer criatura. Que o fizesse ou não, foi determinado unicamente por Sua própria vontade. Ele era perfeitamente bem-aventurado em Si mesmo antes de ter sido chamada à existência a primeira criatura. E, que são para Ele todas as Suas criaturas, mesmo agora? Deixemos outra vez que as Escrituras dêem a resposta: “Eis que as nações são consideradas por ele como a gota de um balde, e como o pó miúdo das balanças: eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seu animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa vã. A quem pois fareis semelhante a Deus: ou com que o comparareis?”(Isaías 40.15-18). Esse é o Deus das Escrituras; infelizmente Ele continua sendo o “Deus desconhecido”(Atos 17-23) para as multidões desatentas. “Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é quem estende os céus como cortina, e os desenrola como tenda neles habitar; o que faz voltar ao nada os príncipes e torna coisa vã os juízes da terra”(Isaías 40.22-23). Quão imensamente diferente é o Deus das Escrituras do Deus do púlpito atual!

O testemunho do Novo Testamento não tem nenhuma diferença do que vemos no Velho Testamento. Como poderia ser, uma vez que ambos tem o mesmo Autor! Ali também lemos: “A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, o único poderoso Senhor, Rei dos Reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver: ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém”(1 Timóteo 6.15-16). O Ser que aí é descrito deve ser reverenciado, cultuado, adorado. Ele é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência, incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, porém não é enriquecido por ninguém.

Tal Deus não pode ser encontrado mediante investigação; só pode ser conhecido conforme e quando revelado ao coração pelo Espírito Santo, por meio da Palavra. É verdade que a criação manifesta um Criador, e isso com tanta clareza, que os homens ficam “inescusáveis”(Romanos 1.20); contudo, ainda temos que dizer com Jó: “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovão do seu poder?”(Jó 26.14). Cremos que o argumento baseado no desígnio, assim chamado, argumento apresentado por “apologetas” bem intencionados, tem causado mais dano do que benefício, pois tenta rebaixar o grande Deus ao nível do entendimento finito e, com isso, perde de vista a Sua singular excelência. Tem-se feito uma analogia com o selvagem que achou um relógio e que, depois de um demorado exame, inferiu a existência de um relojoeiro. Até aqui, tudo bem. Contudo, tentemos ir mais longe. Suponhamos que o selvagem procurasse formar uma concepção desse relojoeiro, de seus afetos pessoais, de suas maneiras, de sua disposição, conhecimento e caráter moral—de tudo aquilo que se juntaria para compor uma personalidade. Poderia ele chegar a imaginar ou pensar num homem real—o homem que fabricou o relógio—de modo que pudesse dizer: “Eu o conheço”? Fazer perguntas como essa parece fútil, porém estaria o eterno e finito Deus tanto mais ao alcance da razão humana? Realmente, não. O Deus das Escrituras só pode ser conhecido por aqueles a quem Ele próprio Se dá a conhecer.

Tampouco o intelecto pode conhecer a Deus. “Deus é espírito...”(João 4.24) e, portanto, só pode ser conhecido espiritualmente. No entanto, o homem decaído não é espiritual; é carnal. Esta morto para tudo o que é espiritual. A menos que nasça de novo, que seja trazido sobrenaturalmente da morte para vida, miraculosamente transferido das trevas para a luz, não pode sequer ver as coisas de Deus (João 3.3), e muito menos entendê-las (1 Coríntios 2.14). É mister que o Espírito Santo brilhe em nossos corações (não no intelecto) para dar-nos o “...conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”(2 Coríntios 4.6). E até mesmo esse conhecimento espiritual é apenas fragmentário. A alma regenerada terá de crescer na graça e o conhecimento do Senhor Jesus (2 Pedro 3.18).

A nossa oração e finalidade como cristãos deve ser que possamos “...andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus”(Colossenses 1.10).
A. W. Pink