quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Demonstração Racional do Monoteísmo - Atenágoras de Atenas*

"Que o Deus Criador de todo este universo seja um só desde o princípio, considerai-o do seguinte modo, a fim de que tenhais também o arrazoado da nossa fé:

Se, desde o princípio, tivesse havido dois ou mais deuses, certamente os dois teriam tido que estar em um só e mesmo lugar ou cada um, à parte, em seu lugar. Ora, é impossível que estivessem em um só e mesmo lugar, porque, sendo deuses, não seriam iguais, mas, como incriados, seriam desiguais. De fato, o criado é semelhante a seus modelos, mas o incriado não é semelhante a nada, pois não foi feito por ninguém, nem para ninguém. Se Deus é um só, como a mão, o olho e o pé são partes completivas de um só corpo, visto que delas se completa um só; Sócrates, sim, enquanto criado e corruptível, é composto e dividido em partes. Deus, porém, é incriado, impassível e indivisível. Portanto, não é composto de partes. Contudo, se cada um deles ocupa seu próprio lugar, sendo aquele que criou o mundo mais alto que todas as coisas e estando acima do que ele fez e ordenou, onde estará o outro ou os outros? Com efeito, se o mundo, que tem forma esférica perfeita, é limitado pelos círculos do céu, o Criador desse mesmo mundo está acima de tudo o que foi criado, conservando tudo com a sua providência, que lugar resta para o outro ou outros deuses? Porque não está no mundo, já que pertence a outro; nem em torno do mundo, pois o Deus Criador do mundo está acima deste. E se não está no mundo, nem em torno do mundo (porque tudo o que rodeia este é mantido pelo Criador), onde está? Acima do mundo e de Deus, em outro mundo e em torno a outro mundo? Mas se está em outro e em torno de outro, já não está em torno de nós (pois não tem poder sobre este mundo), nem é grande em si mesmo, pois está em lugar limitado. E se não está em outro mundo, porque tudo é repleto pelo criador do mundo, nem em torno a outro, porque tudo é mantido por este, então, definitivamente, não existe, pois não existe lugar onde esteja. O que é que faz, tendo outro de quem é o mundo e estando ele acima do Criador do mundo, mas não estando nem no mundo, nem ao redor do mundo? Existe, porém, um ponto de apoio em que se apóie aquele que foi feito contra aquele que é? Acima dele, porém, está Deus e as obras de Deus. E qual será o lugar, visto que o Criador preenche o que está acima do mundo? Tem providência? Não! Não tem providência também, porque não fez nada. Por fim, se nada faz, não tem providência, nem outro lugar onde esteja, existe, desde o princípio, um único e só: o Deus Criador do mundo.

Se nos contentássemos com esses argumentos de razão, poder-se-ia pensar que a nossa doutrina é humana. Entretanto, nossos arrazoados são confirmados pelas palavras dos profetas. Penso que vós, que sois amicíssimos do saber e intruidíssimos, não desconheceis os escritos de Moisés, nem de Isaías, Jeremias e outros profetas que, saindo de seus próprios pensamentos, por moção do Espírito divino, falaram o que neles se realizava, pois o Espírito se servia deles como flautista que sopra a flauta. Que dizem os profetas? "O Senhor é nosso Deus; não será contado nenhum outro com ele". E ainda: "Eu sou Deus antes e depois, além de mim não há Deus." Igualmente: "Antes de mim não existiu outro Deus, e depois de mim não existirá. Eu sou Deus e não há outro além de mim." E a respeito de sua grandeza: "O céu é o meu trono e a terra é o escabelo de meus pés. Que casa me edificarás, ou qual é o lugar do meu descanso?" Deixo para vós, inclinados sobre os livros deles, examinar mais as suas profecias, a fim de que, através de um raciocínio conveniente, recuseis a calúnia contra nós."




*Atenágoras (†180) - era provavelmente um filósofo cristão em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos ou Petição em favor dos cristãos, apologia oferecida em tom respeitoso ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cômodo contra as acusações de que os cristãos eram ateus, praticavam o incesto e a antropofagia; provavelmente escreveu também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos. Foi grande apologista, de escrita hábil e retórica!

Fonte: Padres Apologistas, editora Paulus, 3 edição, pg 128-130. 2005

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