Cela de Bonhoeffer em Tegel
Em plena Segunda Guerra Mundial, época
sombria em que a Alemanha era dominada pelo nazismo e grande parte da
Cristandade não erguia sua voz contra Hitler, o teólogo e pastor alemão
Dietrich Bonhoeffer ousou se opor. Por conta disso, foi preso pela Gestapo em 5
de abril de 1943, permanecendo encarcerado por dois anos.
Durante esse período de aprisionamento,
desenvolveu um relacionamento estreito com outros presos e com os guardas, os
quais se agradavam de sua companhia — Bonhoeffer procurava auxiliar os outros e
viver um Cristianismo de serviço.
Ele desfrutava de algumas regalias, como
sair de sua cela de vez em quando e lhe era permitido enviar e receber
correspondências, mas nem por isso ele deixava de ser um preso e vez ou outra
sofria tratamento hostil pelos nazistas.
Em 09 de abril de 1945, aos 39 anos de
idade, Dietrich Bonhoeffer foi enforcado pelas forças nazistas, juntamente com
seu irmão e dois cunhados, poucos dias antes da rendição alemã.
Espero que o imitemos em nossas orações a
Deus, revelando tudo o que somos, tudo o que sentimos, todas as nossas
fraquezas, debilidades, temores... É de tais orações que Deus se agrada!
Quem sou eu?
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que deixo a minha cela
sereno, alegre e firme,
qual dono que sai do seu castelo.
que deixo a minha cela
sereno, alegre e firme,
qual dono que sai do seu castelo.
Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que falo com os que me guardam
livre, amável e com clareza,
como se fosse eu a mandar.
que falo com os que me guardam
livre, amável e com clareza,
como se fosse eu a mandar.
Quem sou eu? Também me dizem
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e altivo,
como alguém acostumado a vencer.
que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e altivo,
como alguém acostumado a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem a meu
respeito?
Ou sou apenas o que eu sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
respirando com dificuldade, como se me apertassem a garganta,
faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
irrequieto à espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Ou sou apenas o que eu sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
respirando com dificuldade, como se me apertassem a garganta,
faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
sedento de palavras boas, de proximidade humana,
tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
irrequieto à espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?
Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo? Diante das pessoas um hipócrita?
E diante de mim mesmo um covarde
queixoso e desprezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será como um exército derrotado,
que foge desordenado à vista da vitória já obtida?
Ou aquilo que ainda há em mim será como um exército derrotado,
que foge desordenado à vista da vitória já obtida?
Quem sou eu? O solitário perguntar
zomba de mim.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces.
Sou teu.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces.
Sou teu.
O poema acima foi retirado do livro “Dietrich Bonhoeffer: Vida e
pensamento”, de Werner Milstein, lançado pela Ed. Sinodal.
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