segunda-feira, 20 de junho de 2011

Furadores de gelo no olho, mutilações com serra elétrica, tramas mínimas, modos de filmagem, metal punk,...[A nova violência da mídia e o facismo]

"O comício de Nuremberg com cerca de 140 mil seres humanos transformados em um, não foi apenas um modo para a criação de um sentido de comunidade de massa; foi também a maneira de incitar aquela comunidade à violência. Essa era outra função de todo o aparato de propaganda nazista - voltar as pessoas contra os judeus; mobilizar toda a comunidade para uma guerra total.

A cultura de massa hoje é adubada pela violência. Em sua maioria, trata-se de uma violência estetizada, uma emoção substituta de um filme ou de um concerto de rock. Embora não tenha ainda um foco específico ou escape político, resta pouca ou nenhuma dúvida de que a violência celebrada pela mídia está respingando na realidade, com o crescimento da criminalidade bizarra e da terrível violência de rua.

A estética da violência, que no passado foi associada somente à vanguarda fascista, agora está completamente tomada pela indústria de entretenimento popular. Reflections on violence (Reflexões sobre a violência), de Sorel, e o desejo dos futuristas de "exaltar movimentos de agressão", o "gesto destrutivo", e "a bofetada e o golpe com o punho" costumavam ser chocantes e controversos. Tal estética seria especialmente ultrajante à cultura popular da época, que ainda sofria da sentimentalidade e do orgulho associados à era vitoriana. Mas hoje, a estética da violência é a província da cultura popular.

Os filmes de mercado de massa de hoje revelam [a violência] por meio de decapitações, furadores de gelo no olho, mutilações com serra elétrica e munição de alto teor explosivo para estourar os miolos das pessoas. Um subgênero completo, um filme de terror, consiste em nada menos do que um episódio depois do outro de adolescentes e mulheres sendo massacrados. Mesmo os filmes mais sofisticados contêm sempre carro explodindo ou um tiro no rosto de alguém.

Ainda que o entretenimento popular tenha valorizado a aventura e o suspense, o que exige certos elementos de violência, a nova violência da mídia é diferente daquela do passado. As narrativas tradicionais podem empregar violência como parte de uma história, municiando o suspense e a catarse no contexto de um significado maior. Em muitos filmes contemporâneos, como os de terror, a violência é tudo o que existe. As tramas são mínimas e parecem ser assim porque são reutilizadas de um filme para outro. A única atração é ver os efeitos especiais que os técnicos criam, superando uns aos outros com simulações de novos atos de brutalidade. É claro que depois de algum tempo os efeitos chocantes se desgastam e os assassinatos começam a acontecer para boas risadas.

Mais significativo é o modo como a violência é filmada. As histórias tradicionais de horror são contadas do ponto de vista da vítima. A audiência se identifica com os bons personagens; a câmera mostra o que o herói está vendo - um rosto na janela ou um monstro chegando cada vez mais perto. Os espectadores dos filmes sofrem e ficam momentaneamente assustados, mas o monstro é derrotado no final, e a conclusão é de encerramento emocional e moral. Os novos filmes de horror assumem muitas vezes o ponto de vista do monstro. A câmera mostra o que o assassino está vendo - observando uma mulher através do buraco da fechadura, seu rosto, quando ela olha para a câmera, é suplicante, o punhal é visto perifericamente na câmera sendo cravado em seu corpo. Os espectadores têm uma experiência substitutiva do que seria estar no lugar do assassino e matar alguém. O filme não é assustador, porque os espectadores não se identificam com as vítimas. Ao contrário, dependendo da psique do espectador, o filme pode ser repulsivo, pode ser emocionante, oferecendo uma onda de prazer por violar um tabu moral; ou pode dessensibilizar o espectador e desumanizar as vítimas a ponto de que o assassinato vicário passa a ser engraçado.

Os comícios de Hitler, completos com shows de luz e música, nos lembram os megashows de rock de hoje. No passado, ir a um concerto significava simplesmente ouvir um artista pessoalmente; com o fenômeno de Woodstock, o concerto se tornou uma oportunidade de participar de uma experiência comunitária. Hoje, muitos concertos de rock se transformaram em ilusões coletivas de violência. As bandas de heavy-metal cantam o estupro, a tortura, e o assassinato em massa ("grite, enquanto eu estiver matando você"). A música pulsante é acompanhada de cenas cruéis no palco - decapitação, tortura e matança de animais. Nos concertos dos Slayers, eles simulam abrir à faca o corpo de uma mulher para tirar dela uma criança, e depois jogá-la para a multidão. à medida que isso acontece, os adolescentes (em sua maioria garotos) se juntam à banda em um canto violento. Então eles começam a dançar com energia e violência, uma dança que envolve toda a multidão, na qual eles se golpeiam uns aos outros o mais forte que podem.

As primeiras bandas a empregar a estética da violência, com letras de música violentas e cheias de raiva, em que os participantes da audiência se empurram agressivamente e batem uns nos outros, foram os roqueiros punk dos anos de 1980. As bandas punk mais modernas foram aos limites extremos da rebelião moral. Alguns grupos de música punk e heavy-metal perceberam que as letras racistas violavam os tabus e emocionavam a audiência. Alguns roqueiros leram Mein Kampf e começaram a usar a suástica em uma joia, cultivando um modo nazista chique de ser.

O movimento dos cabeças raspadas (skinheads) cresceu, pelos menos parcilamente, por causa do rock-punk. Especialmente na Europa, os jovens da classe trabalhadora, ressentido-se dos imigrantes estrangeiros e das baixas perspectivas econômicas, rapavam suas cabeças e formavam células neonazistas. Alguns se tornaram parte dos partidos fascistas organizados, como a Frente Nacional da Inglaterra. Organizações similares se espalharam por quase toda a Europa. Os primeiros partidos fascistas, como Bertrand de Jouvenel disse uma vez, eram semelhantes a grupos de "jovens incendiados por um amor de heroísmo e violência", especialmente o último. Como seus antepassados da SA, os skinheads se divertiam com o vandalismo, desde as surras que davam nos negros aos tumultos nas partidas de futebol. Em seus comícios, eles tocavam metal punk e mosh.

Foucault louvava a irracionalidade violenta por seu poder de superar a "violência da razão". Enquanto Foucault acreditava que os loucos são oprimidos pelos sãos e os criminosos são oprimidos pela lei, a História mostra que a eliminação de todas as restrições da razão e da moralidade leva não à liberação, mas ao facismo."



Gene Edward Weith Jr. O Facismo Moderno: a cosmovisão judeu-cristã ameaçada. Editora Cultura Cristã, p. 135-137, 2010.



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