domingo, 28 de junho de 2009

A Teologia de John Wesley a um Fio

O entendimento de John Wesley (1703-1791) (um dos grandes evangelistas do Grande Avivamento do século 18), sobre a obra da salvação era basicamente arminiano, embora só no fim da vida ele se interessou pelos escritos do teólogo holandês Jacobus Arminius. Ainda que Wesley cresse na doutrina do pecado original e na depravação e incapacidade do pecador em responder à graça, ele cria que Deus escolheria pecadores por prever quem teria fé em Cristo, que morreu por todos os homens. E que o cristão que permanecer em pecado grosseiro pode perder a salvação.

Sua teologia foi uma síntese entre a piedade sacramental anglicana, os escritos devocionais dos pais orientais, o misticismo católico medieval, a teologia prática puritana e a ênfase evangelística dos morávios, fundidos com os temas principais da tradição da Reforma, que estavam presentes em seus sermões.
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Ainda que em aspectos importantes se tenha afastado da tradição luterana e reformada, John Wesley reconheceu, em 1745, que sua teologia estava “a um fio de cabelo” do pensamento de João Calvino: “Ao atribuir todo o bem à livre graça de Deus. Ao negar o livre-arbítrio natural e o poder antecedente à graça. E, ao excluir o mérito humano; mesmo para o que ele realizou ou pratica pela graça de Deus”. Isso é exemplificado numa conversa que Charles Simeon, ministro da Holy Trinity Church, em Cambridge, teve com Wesley, em 1784:

Senhor, sei que o chamam de arminiano, e algumas vezes sou chamado de calvinista; portanto, deveríamos desembainhar as espadas. Porém, antes de consentir em iniciar o combate, permita-me fazer-lhe algumas perguntas [...] Diga-me: o senhor se sente uma criatura depravada, tão depravada que nunca teria pensando em voltar-se para Deus, se ele não tivesse coloca isso em seu coração?

Sim [replicou o veterano], sinto-o realmente.

E não tem esperança alguma de tornar-se aceitável perante Deus por qualquer coisa que possa fazer por si; e espera na salvação exclusivamente através do sangue e da justiça de Cristo?

Sim, unicamente por meio de Cristo.

Mas, senhor, supondo-se que foi inicialmente salvo por Cristo, não poderia de alguma outra forma salvar-se depois, através de suas próprias obras?

Não, mas terei de ser salvo por Cristo do princípio ao fim.

Admitindo, portanto, que foi inicialmente convertido pela graça de Deus, o senhor, de um modo ou de outro não tem que se manter por suas próprias forças?

Não.

Nesse caso, então, o senhor tem que ser mantido, cada hora e momento, por Deus, tal como uma criança nos braços de sua mãe?

Sim, inteiramente.

E toda sua esperança está firmada na graça e misericórdia de Deus, para ser preservado até o seu reino celeste?

Sim, não tenho esperanças senão nele.

Então, senhor, com sua permissão embainharei novamente a minha espada; pois este é todo o meu calvinismo, esta é a minha eleição, minha justificação pela fé, minha perseverança final; em suma, é tudo quanto sustento, e como o sustento; portanto, se lhe parecer bem, em lugar de buscarmos termos e frases que serviriam de base para luta entre nós, unamo-nos cordialmente naquelas coisas sobre as quais concordamos.


Extraído do livro “Gigantes da Fé”, de Franklin Ferreira, editora Vida, pg. 236-239. 2006.

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