sábado, 23 de maio de 2009

"O Pecado e a Crueldade do Utopismo"

"Se alguém nos perguntasse: "O que é a Bíblia?" provavelmente não começaríamos nossa resposta dizendo: "A Bíblia é um livro realista". Contudo, no século em que estamos esse poderia ser o melhor ponto de partida - enfatizar o realismo da Bíblia em contraste com o romantismo que caracteriza o conceito de religião do século 20. Para a maioria das pessoas modernas, a verdade é para ser buscada por meio de um salto do qual extraímos nossas próprias experiências.

Muitos sentem que a Bíblia devia retratar uma visão romântica da vida, mas a Bíblia é de fato o livro mais realista do mundo. Ela não diz de modo pouco sincero: "Deus está no seu céu - tudo está bem com o mundo!" A Bíblia encara de frente os dilemas do mundo. Contudo, diferentemente do realismo moderno que termina em desespero, a Bíblia tem respostas para os dilemas. E ainda, diferentemente do romantismo moderno, suas respostas não são otimismo sem uma base suficiente, nem esperança pendurada num vácuo.

Por isso devemos dizer de imediato às pessoas deste século: a Bíblia é um livro de fibra resistente.

O realismo da Bíblia conduz a muitas aplicações práticas... Pecado é pecado, e não podemos chamá-lo de menos do que isso. Não é um ato de amor explicar o pecado até desaparecer como sendo determinação psicológica ou condicionamento sociológico, pois ele é real e precisa ser tratado. Os homens necessitam de um Salvador. Portanto, os cristãos em nossa geração devem resistir ao pensamento relativista e determinista. Se vão encontrar uma solução real ao problema de quem eles são, os homens precisam vir a tempos com o fato de que precisam de um Salvador porque são pecadores na presença de um Deus santo. O pecado é coisa séria.

Do mesmo modo, como cristãos, o pecado em nossa vida também é coisa séria. Nunca nos cabe meramente explicá-la a ponto de fazê-lo desaparecer, seja em nós, em nosso grupo, ou em nossa família.

Por outro lado, saber que todos os homens são pecadores nos livra da crueldade do utopismo. O utopismo é cruel porque espera dos homens e das mulheres o que eles não são e não serão até que Cristo volte. Tal utopismo, esquecer o que a Bíblia diz sobre pecaminosidade humana, é duramente insensível; é coisa tão monstruosa quanto o pior que se pode imaginar.

Eu disse que o pecado é uma coisa séria e nunca podemos minimizar isso. Mas também estamos sendo menos do que bíblicos se escorregamos para o romantismo e utopismo.

Cristãos bíblicos nunca devem ter a reação descrita pela palavra chocados. Há um tipo de cristão que constantemente se espertiga todo e declara: "Estou chocado". Se está, não está reagindo à realidade como deve, porque é tanto contra o ensino da Escritura romantizar os homens, a si mesmo ou a outros como é explicar o pecado como não sendo nada. Por um lado, não devemos olhar os homens com um olho cínico, vendo-os apenas como produtos sem sentido do acaso; mas por outro lado, não devemos ir ao extremo oposto enxergando-os romanticamente. Fazer qualquer uma das duas coisas é deixar de entender quem os homens realmente são - criaturas feitas à imagem de Deus, mas caídas.

O entendimento cristão do ser humano não é apenas teórico. Os cristãos devem também ser capazes de mostrar mais compreensão às pessoas do que o cínico ou o romântico mostra. Não devemos nos surpreender quando um homem demonstra que é um pecador porque, afinal de contas, nós sabemos que todos os homens são pecadores. Quando alguém se senta para conversar comigo, devo transmitir-lhe (mesmo se não o expresso em palavras) a atitude de que tanto ele como eu somos ambos pecadores.

E de imediato, quando comunico essa percepção, uma porta se abre para o díalogo. Nada o ajudará tanto no encontro com os indivíduos, por mais que tenham ido longe ou o quanto já estejam enredados no horror moderno, como perceberem em você a atitude: "somos ambos pecadores". Isso não signifca que minimizamos o pecado, mas mesmo assim podemos mostrar que nós o compreendemos porque estamos no mesmo lugar. Podemos dizer "nós" em vez de só "você". Projetar choque como se nós fôssemos melhores bate a porta encerrando o diálogo de vez. Cada um de nós não precisa olhar além de si para saber que os homens e as mulheres são pecadores.

Utopismo é terrivelmente cruel porque espera das pessoas o impossível. Essas expectativas não estão baseadas em realidade. Elas se acham em oposição às possibilidades genuinamente possíveis dadas pelo realismo da Bíblia.

Utopismo pode causar dano. No lar, no relacionamento entre homem e mulher, nada é mais cruel do que a esposa ou o marido criar uma falsa imagem em sua mente e então exigir que o marido ou esposa esteja à altura desse romantismo falso. Nada destrói lares mais do que isso. Tal comportamento é totalmente contrário à doutrina bíblica do pecado. Mesmo depois da redenção, nós não somos perfeitos nesta vida. Não é que evitemos dizer que o pecado é pecado, mas precisamos ter compaixão cada um pelo outro, também.

Utopismo também causa dano no relacionamento entre pai e filho. Quando um dos pais exige de seu filho mais do que a criança lhe é capaz de dar, o pai ou a mãe a destrói, como também a distancia. Mas a criança também pode esperar demais de seus pais. O problema está dos dois lados. Em todo o mundo, talvez especialmente no mundo ocidental, as crianças estão esperando perfeição demais dos adultos. E porque o pai ou a mãe não chega à altura do conceito de perfeição da criança, ela o destrói.

Utopismo também é destrutivo com um pastor e seu povo. Quantos pastores não foram esmagados porque seu povo esperou que eles vivessem à altura de um ideal impossível? E quantas congregações não foram machucadas por pastores que se esqueceram que não se podia esperar que as pessoas em suas igrejas fossem perfeitas?

Se exigimos, em qualquer de nossos relacionamentos, ou perfeição ou nada, nós receberemos o nada. Só quando já aprendemos isso é que seremos cristãos que crêem na Bíblia, e só então compreendemos algo da vida. Só então podemos ser mais compreensivos com as pessoas e mostrar real compaixão. Consequentemente, repito, se em qualquer dos relacionamentos da vida exigirmos perfeição ou nada, teremos nada"



Francis Shaeffer

5 comentários:

Danilo Neves disse...

Esse texto mexeu bastante comigo, meus irmãos! Que o Senhor vos abençoe assim como Ele me abençoou! Amém.

Texto retirado do sermão de Francis Schaeffer: "A Fraqueza Dos Servos de Deus", do livro "Não Há Gente Sem Importância", editora Cultura Cristã.

Claudio Cavalhieri disse...

graça e paz do Senhor Jesus Cristo, nosso Senhor!
Irmãos, tenho sido agraciado grandemente pelos artigos, comentários e cânticos postados nesse blog. Tenho indicado a cada dia a cada irmão e amigo o blog e espero que o Senhor continue a operar em seus idealizadores tanto o querer quanto o realizar para sua glória.
Algumas pessoas de todos os cantos do país que ja indiquei tem me falado da importância das leituras feitas no blog.
Que o Senhor vos abençoe sempre,
Fraternalmente em Cristo
Pr. Cláudio Alexandre Cavalhieri

Prof. Israel Lima disse...

Meu amigo Danilo Neves,

Muito obrigado por sua horosa visita e excelente comentário!

Desde já, já o convido a fazer-me uma nova visita.

Olha Danilo, como evangélico, creio nos preceitos bíblicos e os considero e sigo. Como Educador, respeito as diversidades, pois no meu juramento, jurei não ter nenhum tipo de preconceitos.

Abordei, como você mesmo pode ler, o assunto de forma transparente e imparcial, apenas expus o assunto e pedi que meus leitores comentassem.

E vem você com um comentário maravilhoso, que nos fez refletir um pouco mais sobre essa temática.

Obrigado e Visite-me mais vezes.

Um grande abraço.

Danilo Neves disse...

Amado irmão e pr. Cláudio. Eu também te saúdo com essa mesma graça e com essa mesma paz, em Jesus, o Filho de Deus!

Eu fico feliz e feliz e feliz por saber que este blog está agraciando vidas através dos posts e comentários de nossos outros irmãos. O teu comentário deu mais incentivo a nós do blog.

Você será sempre bem vido aqui, meu irmão, pois sei que você ama a Palavra!

Quando você vai escrever um post pra nós?? O rev. Márcio (o "Puri", descobri esses dias, kkkk) vai falar futuramente sobre o homossexualismo a luz da Bíblia.

Um grande abraço, Claudião.

Soli Deo gloria.Amém.

Danilo Neves disse...

Olá, irmão e prof. Israel.
Obrigado também por visitar este blog.

Também te agradeço pelos elogios e desde já digo que acompanho os seus posts, particularmente aqueles que digem respeito a eduação e pensamento cristão.

Indico a todos os que lêem o umpcgyn o blog do prof Israel, especialmente a leitura de um dos posts dele que nos fala sobre algumas propostas que estão perto (espero que não) de serem aprovadas pelo nosso governo em relação aos homossexuais: http://pelocorredordaescola.blogspot.com/2009/05/homofobia.html

Abraço, professor!

Graça e paz, em Jesus, o Filho de Deus. Amém!

Soli Deo gloria