quarta-feira, 6 de maio de 2009

Agostinho e Calvino Falando Sobre os Anjos

"Com o nome de anjo se designa o ofício, não a natureza. Perguntas o nome desta natureza? É espírito. Procuras saber qual o seu múnus? É de anjo, mensageiro. Quanto ao que é, é espírito; quanto ao que faz, é anjo"

"Os anjos já existiam quando foram criados os astros. Ora, estes o foram ao quarto dia. Diremos, então, que foram criados ao terceiro? Claro que não. Sabemos muito bem o que nesse dia foi feito: a terra foi separada das águas, cada um destes elementos recebeu as espécies que lhes convinham e a terra produziu tudo o que nela cria raízes. Seria, porventura, no segundo? Também não. Nesse dia foi feito o firmamento entre as águas do alto e de baixo, dando-se-lhe o nome de Céu; e no firmamento foram criados os astros ao quarto dia. É, pois, claro que se eles se encontram entre as obras que Deus fez em seis dias, os anjos são essa luz que recebeu o nome dia; e foi para marcar a unidade que se não disse o primeiro dia, mas sim um dia. Porque o segundo, o terceiro e os seguintes não são outros, mas o mesmo dia único repetido para constituir o número seis ou sete, vem vista de um conhecimento senário ou septenário - o senário relativo às obras que Deus fez e o septenário relativo ao repouso de Deus"

"Não é lícito pôr em dúvida que as inclinações, entre si contrárias, dos bons e dos maus anjos, não resultam de naturezas e princípios diversos, pois foi Deus, autor e criador excelente de todas as substâncias, quem as criou a umas e outras - mas provêm das vontades e apetites. Uns mantêm-se no bem, comum a todos, que para eles é o próprio Deus, e na sua eternidade, na sua verdade, na sua capacidade; os outros, comprazendo-se mais no seu poder pessoal, como se fosse bem seu próprio, afastaram-se do supremo bem, fonte universal de felicidade e - preferindo o fausto da sua elevação à eminentíssima glória da eternidade, a astúcia da sua vaidade à plena certeza da verdade, as suas paixões de facção à indivisível caridade - tornaram-se orgulhosos, enganadores e invejosos. A beatitude daqueles tem, pois, por causa a união a Deus - e a desgraça destes explica-se pela razão contrária: a separação de Deus"


"Os anjos são despenseiros e ministradores da divina beneficência para conosco. E, por isso, a Escritura refere que eles montam guarda pela nossa segurança, assumem a nossa defesa, dirigem os nossos caminhos, exercem solicitude para que não nos aconteça algo de adverso"

"Ora, ainda que da diversidade de nomes concluamos que há várias ordens, todavia, investigá-los mais minuciosamente, fixar seu número e determinar suas hierarquias não seria mera curiosidade, e, sim, também temeridade ímpia e perigosa"

"É evidente que Deus emprega seus anjos de diferentes maneiras, pondo um só anjo sobre várias nações e também vários anjos sobre um só homem. Não há necessidade de sermos exigentes e escrupulosos inquirindo sobre o modo exato em que ministram juntamente para nossa segurança; basta que, conhecendo pela autoridade de um apóstolo o fato de serem eles designados como ministros sobre nós, descansemos satisfeitos como o fato de que estão sempre atentos a sua incubência. Lemos em outra parte sobre sua prontidão em obedecer às ordens divinas e executá-las; e isso deve contribuir para o fortalecimento de nossa fé, visto que Deus faz uso de seus esforços para nossa defesa"

"Eles foram criados para realçar a glória de Deus por todos os meios possíveis"

"Discorrendo sobre hieraquia, número e forma dos anjos, Calvino conclui: "lembremo-nos de que nos devemos guardar, seja de exagerada curiosidade em perquirir, seja de excessiva ousadia no falar"

2 comentários:

Danilo Neves disse...

Observações importantes aos leitores:

-- Explicações sobre os vocábulos e contextos:

Tanto a palavra grega aggelos como a hebraica malak, que traduzimos por "anjo", significam "mensageiro" ou "embaixador". O termo é usado em vários sentidos nas Escrituras. 1) Pode referir-se a uma pessoa humana: Jó 1.14; Lc 7.24 Is 43.19; Ml 2.7; 3.1; Ap 1.20. 2)Ás vezes se refere a agentes impessoais: Ex 14.19, cf. 13.21-22; 2Sm 24.15-17; Sl 104.4; Sl 78.49; 2Co 12.7. 3) É usado também para a segunda pessoa da trindade: Gn 16.7-11; 22.11-15; 24.7-40; Ex 3.2; Nm 22.22-35; Jz 2.1,4; 6.12,21,22; 13.13-21; Is 63.9; Ml 3.1; Ex 14.19 4)De modo principal, o termo refere-se a esses seres espirituais que chamamos de "anjos", tanto bons quanto maus: Jó 1.6; Sl 103.20; Hb 1.13,14; 2Ts 1.7; Lc 9.26; 1Tm 5.21

SÓ O CONTEXTO DETERMINA O SENTIDO DO TERMO NUMA DETERMINADA PASSAGEM

-- Sobre o que Agostinho disse:

Agostinho ao falar sobre quando os anjos foram criados, foi categórico de mais quanto a escolha do quarto dia.

A Bíblia diz que tudo que existe nos céus e na terra foi criado por Deus no espaço dos seis dias (Ex 20.11). Isto inclui os anjos. Não diz, porém, em qual dos dias eles foram criados. Não há menção específica deles nos relato de Gênesis, mas devem ser incluídos na expressão "céus e terra" de 1.1. Alguns supõem que eles foram criados ao mesmo tempo em que Deus formou os sistemas celestes, enquanto outros acham melhor pensar que ele foram criados no sexto dia, se houver um paralelo entre a criação dos terra e dos seres terrenos com a dos céus e dos seres celestiais. De qualquer modo, no cap 2 de Gn já Satanás aparece como um anjo caído, o que dixa claro que ncessariamente houve um intervalo entre a criação dos anjos, a queda de Satanás e a tentação e a queda do homem.

Que todos os anjos foram criados bons fica evidente pela natureza do Criador, da criação em seu estado original e da própria declaração de qeu "viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom" (Gn 1.31), no final do sexto dia.

Não nos é dito também quantos anjos foram criados. Como não são uma raça, não se procriam e, por conseguinte, o seu número é fixo. A Bíblia, todavia, afirma que o seu número é grande conforme os textos: 1Rs 22.19; Dt 33.2; Dn 7.10; Mt 26.53, Mc 5.9,15; Ap 5.11. Tudo isso indica que o seu número é imensamente grande.

-- Sobre os anjos maus ou decaídos:

A Bíblia fala em anjos que "não guardaram o seu estado original" (Jd 6) e anjos que pecaram (2Pe 2.4). A queda dos anjos (não de todos) é ensinada na Bíblia, mas não em detalhes como a do homem. Por isso, o máximo que se pode fazer é tirar inferências por analogia com a prova e queda do homem. Assim como o homem foi provado na sua obediência ao Criador, é provável que os anjos também o tenham sido.

O que a Bíblia deixa abasolutamente claro é que alguns anjos não preservam o seu estado original e caíram, sem oportunidade de redenção, o que significa que os demais não caíram. É certamente a estes que Paulo chama de "anjos eleitos", em 1Tm 5.21

Danilo Neves disse...

Dt 29.29 diz que há coisas encobertas, ocultas a nós. A questão é: está oculto pq de fato Deus ocultou ou está oculto por causa da minha ignorância?

O que Dt 29.29 quer dizer é que há coisas que só pertecem a Deus e que Ele não revelou, em outras palavras, que existem informações confidenciais, que Deus não vai nos contar. Acontece que muitos crentes citam esse texto para justificarem a omissão deles em não estudarem, em não lerem a Palavra. Quanto são questionados sobre determinado assunto que não conhecem, logo citam o texto

O tema "anjos" é grande parte dele oculto. Deus nos revelou poucas coisas.

Abç a todos!