sábado, 16 de julho de 2011

Um Deus que está contra nós em ira e, ao mesmo tempo, nos ama?

"Propiciação é o ato pelo qual alguém (neste caso, Deus) se torna propício, ou seja, favorável. Propiciação é o ato sacrificial pelo qual alguém se torna favorável.

No paganismo antigo, a propiciação operava assim. Havia muitos deuses em vários domínios (deus do mar, deus/deusa da fertilidade, deus da fala, deus da guerra, etc.) que eram um tanto caprichosos e irascíveis. O seu dever consistia em torná-los propícios (favoráveis) a você. Por exemplo, se você queria fazer uma viagem marítima, devia assegurar-se de que o deus do mar, Netuno, era favorável, por oferecer-lhe um sacrifício propiciatório na esperança de que ele lhe daria uma travessia segura. Portanto, o objeto do sacrifício propiciatório era o próprio deus, e o propósito era tornar esse deus propício.

A expiação, por contraste, tem o alvo de cancelar o pecado. A expiação é o ato sacrificial pelo qual o pecado é cancelado, removido, expiado. O objeto da expiação é o pecado. Por contraste, o objeto da propiciação, como já vimos, é Deus. A expiação se refere a cancelar o pecado, e a propiciação se refere a satisfazer ou afastar a ira de Deus. A palavra específica usada em Romanos 3.25 é empregado comumente no Antigo Testamento para fazer referência a um sacrifício propiciatório que remove a ira de Deus.

[...]

Na propiciação pagã, um ser humano oferece um sacrifício propiciatório para tornar um deus propício. Na propiciação cristã, Deus, o Pai, apresenta Jesus como a propiciação para tornar-se ele mesmo propício. Deus é tanto o sujeito quanto o objeto da propiciação. Deus é aquele que provê o sacrifício precisamente como um meio de afastar sua própria ira. Deus, o Pai, é assim o propiciador e o propiciado; e Deus, o Filho, é a propiciação.

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A ação de Deus em oferecer a Cristo como um sacrifício propiciatório não é um exemplo de "abuso infantil cósmico", em que Deus surra o seu próprio filho. [ver Rm 5.6-8]. Deus prova o seu amor em que Cristo morreu por nós. Você não deve pensar que Deus está contra nós enquanto Cristo é por nós, como se o Pai e o Filho estivessem, de algum modo, em conflito, de modo que o Pai abusa do seu Filho. Deus mostra seu amor por enviar Cristo. Isso está envolvido na própria natureza e mistério da encarnação e da Trindade. É o plano do Deus trino. Perder o Filho magoa o Pai, mas ele faz isso porque nos ama. E o Filho demonstra seu amor por nós por ouvir e conformar-se ao maravilhoso plano de seu Pai. Assim, o plano do Deus trino é realizado para que a justiça de Deus seja garantida e preservada na virtude do fato de que Cristo toma o nosso pecado e os justos padrões de Deus são preservados, enquanto permanecemos livres e recebemos perdão. Deus mostra a sua justiça na cruz.

Você quer ver a maior evidência do amor de Deus? Olhe para a cruz. Você quer ver a maior evidência a justiça de Deus? Vá à cruz. Na cruz, a misericórdia e a ira se encontram. A santidade e a paz se beijam. A cruz é o clímax da história da redenção.

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Você crê? Ou está entre os milhões que começam a vislumbrar o que a cruz significa e rejeitam todo o seu relato como escandaloso? Um Deus vivo que morre e vive novamente? Um Deus que está contra nós em ira e, ao mesmo tempo, nos ama? Uma cruz em que a punição é aplicada por Deus e recebida por Deus? Escandaloso!

E o que você fará quando prestar contas a Deus no último dia e lhe disser que leu este capítulo ou ouviu esta mensagem e rejeitou-a?"


Fonte: D. A. Carson. Escândalo: a cruz e a ressurreição de Jesus. FIEL, p. 63,64,68,72,73,74. 2011.

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